quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O comboio de Natal


Há muitos, muitos anos, numa terra bem distante, um ferroviário, de nome Vassil, vivia com a filha, Malina, numa pequena estação.


Competia a Vassil zelar pela segurança do caminho-de-ferro que atravessava as montanhas, já que súbitas quedas de rochas podiam bloquear a linha e causar acidentes.

Na tarde da véspera do Dia de Natal, Vassil estava, como de costume, a trabalhar na estação. Em casa, Malina ocupava-se da decoração da árvore e não parava de pensar no presente que o pai lhe prometera: o que seria? Estava desejosa de o ver regressar e corria para a janela constantemente, a ver se o avistava.

De repente, ouviu um ruído semelhante a um trovão. A sua cadelinha, Bella, desatou a ladrar e a arranhar a porta com força.

— Deve ter sido uma queda de rochas — exclamou Malina, horrorizada, correndo para fora de casa.

Com efeito, a linha de caminho-de-ferro encontrava-se bloqueada por uma enorme quantidade de rochas. Depois do estrondo, instalara-se na montanha um profundo silêncio. Malina sentiu-se assustada:

— O comboio expresso vai chegar dentro de meia hora! E agora, o que faço? O que faria o meu pai? Já sei! Tenho de avisar o maquinista.

Pensou durante algum tempo. Depois, correu para casa, acompanhada por Bella, aos saltos. Malina lembrou-se do que o pai lhe tinha dito vezes, vezes sem conta:

— Se a linha estiver bloqueada, coloca-te 400 metros à frente do acidente e acende uma fogueira. Depois, acena sem parar com uma lanterna para avisar o maquinista e dar-lhe tempo para travar.

A menina pegou na árvore de Natal e levou-a consigo. Nem deu pelas decorações que iam caindo pelo chão. Correu pela linha abaixo em direcção ao túnel, arrastando a árvore. Faltavam apenas 15 minutos para a chegada do comboio! O túnel estava escuro e silencioso e o brilho da neve ao fundo mal se via. Malina, porém, continuou a arrastar a árvore, sem largar a lanterna acesa. Em breve saiu do túnel e começou a atravessar a ponte; agora, o expresso far-se-ia ouvir a qualquer momento.

Chegou, por fim, ao local que escolhera. Estava sem fôlego devido à corrida e as suas mãos tremeram quando pegou fogo à árvore. As chamas altas que se ergueram no céu nevado mais pareciam velas gigantes. Malina conseguia ouvir o comboio a aproximar-se cada vez mais. De repente, ei-lo a sair do túnel, envolto em grossas nuvens de fumo.

Foi então que o maquinista viu a fogueira e a lanterna. Puxou imediatamente pelo travão de emergência e desligou a locomotiva. Ouviu-se o som estridente do apito. O enorme comboio tremeu, estremeceu e, lentamente, acabou por se imobilizar. Lá dentro, andava tudo aos tropeções. Os passageiros tombaram dos assentos e as bagagens caíram no chão. O caos instalou-se no vagão-restaurante: empregados, pratos, bolos e peixe viram-se, de repente, atirados ao ar.

Lá fora, rodeada pela neve, Malina permanecia imóvel, a segurar a lanterna acesa e a olhar para o enorme comboio arquejante. O maquinista e o revisor saltaram do comboio e foram ter com a menina.

— Olha, é a Malina! — exclamou o maquinista.

— Há uma enorme queda de rochas em frente do túnel grande e eu tinha de vos avisar — disse Malina.

Os dois homens entreolharam-se com admiração. Em breve, todos no comboio sabiam da queda de rochas e de como a menina os tinha salvado. Alguém disse:

— A pobrezinha deve estar cheia de frio, ali no meio da neve.

E logo Malina foi conduzida ao vagão-restaurante, que estava bem quentinho e cheio de rostos que a fitavam. Percebeu que as pessoas falavam entre si e, de repente, viu-se rodeada de presentes! À entrada da carruagem, o pai observava-a. Vassil segurava nas mãos um cordeirinho branco como neve, com manchinhas negras atrás das orelhas. “Que magnífico presente de Natal!” pensou Malina, correndo para o pai.

— Anda, pai, vamos para casa — pediu. — A Bella deve estar a pensar no que nos terá acontecido.

O maquinista esperava-os lá fora com uma bela árvore de Natal, que tinha ido à floresta cortar para eles. Agora, Malina e o pai já podiam celebrar o Natal como queriam.

Sabem porque conheço esta história?

É que, há muitos anos, quando era criança, passei um Natal nessa mesma estação de comboio, com a minha tia Malina e o meu avô Vassil…




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