Hoje é o último ensaio de coro antes da festa de Natal. Quando Roman e Agnes saem da igreja antes das outras crianças, já está escuro e neva ligeiramente. Ao fim de algum tempo de caminho, Agnes diz ao irmão:
— Espera, tenho de apertar os atacadores.
Roman pára. Olha em volta e pergunta:
— O que é isto?
Agnes também ouve um miar fraco e queixoso. Por baixo de um arbusto, descobrem um gatinho. A rua está vazia.
— Se ficares na neve, vais morrer gelado — diz Agnes com pena. — Temos de te levar connosco.
Roman abre o anoraque e mete-o lá dentro.
Em casa, coloca no chão uma malga com leite, que o gatinho lambe com avidez. Agnes vai procurar um cestinho, acolchoa-o com uma manta velha e coloca o gato lá dentro.
— Agora podes dormir.
Extenuado, o gatinho adormece imediatamente. É tão bonito, que as crianças gostavam de ficar com ele mas a mãe diz-lhes:
— Talvez esteja perdido e ande alguém à sua procura.
*
No dia 23 de Dezembro, a mãe ainda tem muito para fazer. Os filhos ajudam na preparação da ceia de Natal. Como muitos Polacos jejuam durante o advento, alegram-se com uma boa refeição na Noite de Natal. Segundo a antiga tradição, são servidos doze pratos: pedaços de arenque, sopa de beterraba, pirogas recheadas, carpa recheada, pratos com choucroute, cogumelos e sementes de papoila, doces e outros pratos.
No dia seguinte, pelo meio-dia, os irmãos acompanham o pai à estação do comboio, que vai buscar o avô e o tio Jurk. Pelo caminho, encontram uma vizinha que lhes fala de uma velhinha que perdeu o seu gatinho.
O pai olha para Agnes e Roman.
— Pode ser o gato que vocês encontraram. Têm de ir levar-lho o mais rápido possível.
E pede o endereço da senhora.
Ao ver quão difícil é para os filhos devolver o gatinho, diz-lhes:
— Eu vou lá. Mas só porque hoje é Natal.
Para receber o avô, a mãe pendurou na porta um letreiro onde está escrito: Bozego Narodzenia – Feliz Natal.
O avô cumprimenta a mãe com um abraço.
— Retribuo os votos depois de ter visto a primeira estrela — diz, apontando para o letreiro.
A mãe faz um gesto com a cabeça. Sabe que o pai mantém os costumes antigos.
À tarde, o pai pega no cestinho com o gato e sai de casa. À medida que lá fora vai ficando escuro, Agnes e Roman olham cada vez mais ansiosos pela janela à procura da primeira estrela no céu. O avô é o primeiro a descobri-la e exclama, alegremente:
— É agora que começa a festa de Natal. Que seja uma festa de paz!
— Mas onde é que está o pai? — pergunta Agnes admirada.
A mesa está posta e ela está com muita fome porque jejuou o dia inteiro. Nesse momento abre-se a porta de casa e o pai entra na sala acompanhado por uma senhora que não conhecem.
— Esta é a Sr.ª Nowak, a dona do gatinho. E como a Sr.ª Nowak está hoje sozinha, vem passar o Natal connosco — diz, ao ver as caras admiradas da família.
Quando se sentam à mesa, as velas da árvore de Natal estão acesas. Um punhado de palha sob o prato serve para lembrar o Menino Jesus na manjedoira. O pai conduz a Sr.ª Nowak ao lugar livre que todos os anos a mãe coloca para o convidado desconhecido. A velha Sr.ª Nowak agradece de todo o coração. As crianças perguntam onde está o gatinho.
— Está no vosso quarto a dormir dentro do cesto — responde a mãe.
Depois de o avô ter dito a oração, ergue o copo e diz festivamente:
— Se no ano passado vos magoei, peço que me desculpem.
Os outros repetem e dão as mãos.
No fim da longa refeição, o pai abre a janela. As crianças saem rapidamente da sala e esperam que o São Nicolau lhes traga Gwiazdka, quer dizer, prendas bonitas.
Este ano, o tempo de espera não lhes parece longo. Ao brincarem com o gato, Agnes diz, pensativamente:
— Diz-se que os animais falam a língua dos Homens na noite de Natal. Será que o gatinho também nos vai dizer qualquer coisa?
Roman não consegue pensar nisso porque nesse momento toca um sininho. É o sinal de que as crianças já podem entrar na sala. Mas antes de se precipitarem sobre as prendas, cantam, em conjunto, músicas de Natal.
Mais tarde, a caminho da missa do galo, Agnes e Roman param no local onde encontraram o gatinho. É então que a Sr.ª Nowak diz:
— Ele ainda não tem nome. Pensem num bonito e será esse que vamos dar-lhe.
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